Nos últimos dias de viagem, a missão do IEE e Ricardo Sondermann tiveram um overview completo de como é o ecossistema que alimenta as ideias inovadoras do Vale do Silício. Foi um fechamento de ouro para uma viagem que mostrou porque tantas empresas estão dirigindo seus olhares para o Vale. Ricardo, consultor da 818 que coordenou a missão, relata os dois últimos dias de viagem abaixo e apresenta os principais raciocínios da viagem.
SFYIMBY – Yes In My Back Yard (Sim no meu pátio)
Há uma expressão em São Francisco que diz: Not in my back yard (não no meu pátio). Ao longo dos anos 60 e 70, muitas rodovias e novas ruas eram abertas na cidade e esta frase representava a posição da comunidade em evitar a destruição da cidade e de sua arquitetura típica.
A SFYIMBY é uma ONG que quer a desregulamentação da pesada legislação de construção em São Francisco. Houve, ao longo dos anos, e de forma bem intencionada no início, uma grande transferência de poder para as 101 comunidades da cidade, um empoderamento do cidadão versus os interesses daqueles que queriam construir mais moradias e negócios. O que era para servir de modo de preservação da arquitetura e modus vivendi, transformou-se numa barreira para a ampliação da cidade, fazendo com que SF se tornasse hoje uma das cidades mais caras no mundo para se viver. Um apto de 1 dormitório pode ter preços de aluguel começando em U$ 6 mil.
Laura Clark comenta que este hiperlocalismo, uma constante segregação entre bairros (antes racial e hoje ampliada para gênero, tamanho de família, renda, etc), as dificuldades de reestruturação de bairros e políticas fiscais equivocadas sobre imóveis e propriedades vem, ao longo dos tempos, ampliando a dificuldade de se construir, elevando preços e custos de vida em geral.
A SFYIMBY quer mudar esta lógica, permitindo que a cidade cresça para cima e para os lados e que as comunidades locais tenham menos peso nas decisões sobre o que vai ser construído. O objetivo é que mais gente venha para São Francisco e que todos possam morar melhor e de forma mais econômica.
DRUMWAVE – Tecnologia radicalmente exponencial
Se o dia já estava movimentado a demonstração proporcionada pelo André Papaléo da DRUMWAVE foi, sem exagerar, impressionante. A empresa criou um sistema de informações comerciais e cruzamento de dados chamado: DDV – Dynamyc Data Visualization. Centrada na Internet das coisas, ela cruza dados de mídias sociais, de dispositivos móveis, utilizando tecnologia big data e armazenamento na nuvem.
É uma empresa baseada fundada e tocada por Brasileiros em Palo Alto. O foco é do Big Data Business Insights até a monetização de Data. A empresa possui clientes globais nas industrias de: Telecom, alta Tecnologia, serviços financeiros, Consumer Goods, Automotivo, Midia& Entertainment, Setor Públicos e Life Sciences.
A DRUMWAVE e seu produto Moebio permite o cruzamento de milhões de dados para a obtenção de dados sobre desempenho de produtos, tendências de mercado, avaliação de relacionamentos, desdobramentos médicos, em fim, um universo impressionante de cruzamentos.
Ainda ouviremos falar muito deles.
GITHUB – A Disneylândia dos programadores
A GITHUB é considerada uma das empresas de crescimento mais exponencial no planeta. A empresa tem dois negócios: o 1º é uma plataforma de colaboração entre desenvolvedores, técnicos, coders, que reúne cerca de 15 milhões de pessoas, trocando informações sobre códigos e programas, transacionando ou simplesmente conversando.
Seu segundo negócio é servir de hub para programas bem como proporcionar ferramentas para desenvolvimento de softwares para os mais variados negócios, nas áreas de saúde, bancos, seguros, meios de pagamento e varejo.
Hoje, ela atende 468 empresas listadas nas 1.000 maiores da revista Fortune e recebeu equities da ordem de U$ 350 milhões para seguir crescendo.
Jennifer Lachmann e Alexander Hermann definem a Github como uma empresa que “não está vendendo um app novo, é todo um fone novo”.
A GITHUB está no topo da pirâmide no mundo da programação e desenvolvimento de produtos de TI.
APEX & ROCKETSPACE – A porta de entrada do Brasil no vale
Francisco Figueiredo nos recebeu no escritório da APEX Brasil, instalada no espaço da incubadora/coworking da ROCKETSPACE. O trabalho da APEX é ajudar empresas brasileiras a exportar, importar e se internacionalizar, conectar empresas para que conheçam os mercados para diversos setores.
Especificamente em SF e vale, a APEX procura conectar empresas, fornecer networking e indicar apoio de advogados e contadores. Ela também disponibiliza espaços no coworking da ROCKETSPACE por preços em torno de U$ 250,00 mensais. Para tanto a empresa precisa preencher um questionário, ter CNPJ no Brasil e explicar suas intenções e seu projeto para participação no mercado americano.
Existe uma porta aberta para o Vale e se chama APEX.
KEIRETSU FORUM – Clube de investidores
Tivemos a incrível oportunidade de participar de um pitch de empresas startups no evento da KEIRETSU. Fomos recebidos pelo presidente mundial, Randy Williams, que nos deu as boas vindas e falou dos planos e projetos.
A KEIRETSU surgiu há mais de 20 anos como uma comunidade reunindo investidores, com a intenção de trocarem ideias, ampliarem relacionamentos, treinar outros investidores, organizarem pitches, analisarem investimentos e participarem das empresas, não somente como investidores que buscam retorno financeiro, mas como mentores de empresas e pessoas. Sua proposta de valor é educar investidores a serem melhores. O termo é give back. Segundo Williams, “por conta de minha falta de inteligência, eu gostaria que as pessoas fossem melhores”.
Contam hoje com mais de 3.000 sócios em 15 países. Os membros, que para entrar precisam aportar U$ 1 milhão, são homens e mulheres com carreiras de sucesso e querem não só ganhar dinheiro, mas fazer empresas que façam sentido para um mundo melhor. Os mercados em que buscam são os mais variados, desde mercado imobiliário até hightech.
No início do evento, a diretora do Fellowship Program de Stanford solicitou a ajuda dos sócios da KEIRETSU para mentoria das empresas de seu clube de empreendedorismo. Mais de 30 mãos se levantaram imediatamente. O evento que tivemos a oportunidade de participar era um pitch de 5 empresas para 110 investidores da KEIRETSU.
Podemos ver por dentro a dinâmica de como são feitas alocações de recursos. Isso não tem preço.
STANFORD UNIVERSITY – ADAM SMITH SOCIETY – Conversas sobre a liberdade no Brasil e nos Estados Unidos.
Nossa viagem terminou com uma reunião com o grupo de estudos da ADAM SMITH SOCIETY na escola de negócios de Stanford. Nos reunimos com estudantes americanos e brasileiros da escola para uma apaixonada discussão de temas liberais. Nossa curiosidade era saber como será a América de Trump e a deles era sobre o futuro da América Latina.
Ben Kohlmann nos recebeu e rapidamente colocou a palavra a disposição. O presidente do IEE, Rodrigo Tellechea, explicou o que é e o que faz o IEE, a situação do Brasil e os desafios dos liberais. A reunião foi possível através da agenda do Anthony Ling, estudante do MBA de Stanford e membro do IEE. Rodrigo deixa bem claro: “temos que parar de reclamar e fazer o que temos que fazer, independente do contexto momentâneo que nos rodeia”.
Fica muito clara a distância que separa o ambiente universitário americano do Brasileiro. Nos EUA, academia e mercado andam juntos. As empresas investem nas universidades e abrem oportunidades para as ideias que vem de lá, enquanto a academia conta com portas abertas para testar suas teorias e ideias. Enquanto isso no Brasil…
Foi um fechamento sensacional da viagem e da semana.
UMA SEMANA EM SF E NO VALE DO SILÍCIO – O túnel do tempo
Vir para San Francisco e o Vale do Silício é uma viagem no tempo futuro. A gente nunca volta igual de uma viagem. E essa foi especialmente transformadora. A montagem da viagem foi um desafio para proporcionar visitas interessante e atender às expectativas de todos.
Vimos startups no início e no meio, empresas que vão mudar o mundo, empresas consolidadas, incubadoras, aceleradoras, clubes de investimentos, espaços para começar, estrutura de apoio e logística para vir ao vale.
Mais que nada vimos um ambiente onde o indivíduo tem muito valor, a colaboração é a palavra de ordem, as relações humanas são diretas e onde vale um estado de espírito multidimensional e exponencial. Aqui, não tem mimimi, jeitinho ou perda de tempo. Aqui, it’s the real deal.
Posso resumir em 4 ideias básicas:
1. Colaboração: a troca de ideias não é só fundamental, é a regra.
2. O que importa são as pessoas. O valor das empresas está menos nos seus produtos do que nas pessoas. A empresa é a combinação das pessoas que fazem parte dela.
3. O Vale não é uma região, é um estado de espírito.
4. Não é feio falir. Falhar é sim parte do processo e encaminha o sucesso.
Como bem disse Francisco Franco da Latin SF: “Uma semana no vale é como se fosse um mês em outro lugar”. Bem, depois de um “mês” fora, estou voltando para casa.
Laura Clark
Missão do IEE na SFYIMBY
Github
Missão do IEE na Github
RocketSpace
APEX
Randy Williams – Keiretsu
Pitch na Keiretsu
Adam Smith Society
Stanford Economic School
Anthony Ling